Editorial

Cabeça erguida, ar triunfante

Uma das cenas mais marcantes - e patéticas - deste primeiro trimestre de 2024 é a cena do ex-atleta Daniel Alves deixando a prisão na manhã de segunda-feira, na Espanha. Condenado por estupro, ele pagou um milhão de euros (pouco mais de R$ 5 milhões) e saiu pela porta da frente da cadeia. A imagem é vergonhosa. O homem com ar arrogante, mascando um chiclete e andando triunfante. Um tapa na cara não só da vítima, novamente vítima de uma violência ao saber que seu agressor, após condenado, não ficou dois meses preso cumprindo a pena (ele já tinha ficado pouco mais de um ano encarcerado aguardando o julgamento). O caso de Daniel Alves é uma agressão a toda mulher.

Violência sexual é uma realidade diária da nossa sociedade. A dificuldade para denunciar, os problemas durante o processo, a descrença, a exposição, as insinuações. Tudo isso acompanha a vítima que tem a coragem de registrar boletim de ocorrência e vir a público falar sobre. O recado que o caso na Espanha passa é um desserviço. É esperado que nas próximas etapas do processo o ex-atleta retorne à cárcere. Mas já atingiu e desrespeitou todo mundo.

Ao converter um crime dessa magnitude em multa, mesmo que não definitivamente, o judiciário passa um claro recado de quem é algo "negociável". Novamente, por mais que ele retorne à cadeia e cumpra o restante da pena até o último dia atrás das grades, a cena marcante da segunda-feira ecoará como mais um na lista de desrespeitos em uma sociedade que busca tanto evoluir em muitos aspectos, mas segue tratando mulheres como cidadãos inferiores.

Há quem argumente sobre as raras, mas existentes, falsas acusações. Em nenhum momento o caso de Alves passou sequer um milímetro dessa impressão. Pelo contrário. Quem caiu em controvérsia diversas vezes foi ele. Tal qual seu colega de profissão - e de crime - Robinho, tratou tudo como desdém e tinha a certeza de que não daria em nada. E, mesmo condenado, no fim tinha razão. O mesmo Robinho, preso na semana passada, passou mais de uma década andando livre por aí.

A impunidade em casos de violência sexual desencoraja mulheres a denunciar. E fazer isso em casos tão midiáticos gera duas repercussões ainda mais gritantes: o recado de que, realmente, cometer o crime às vezes não dá nada e que para a vítima pode ser que sua denúncia não sirva para absolutamente nada. É uma vergonha!

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